segunda-feira, 15 de março de 2010

A Chegada de Severino Boca Seca às Abas do Paraiso (Parte)



A Chegada de Severino Boca Seca às Abas do Paraíso

“Finado Severino/quando passares em Jordão/e os demônios lhe atalharem/perguntando
o que é que levas...
Dize que levas somente/ coisa de não: fome, sede, privação.”
João Cabral de Melo Neto


Severino Boca Seca,
Cachaceiro viciado,
Que nada teve na vida,
Só cruz, cruzeiro e cruzado...
Vendo, Deus, seu sofrimento
Quis levá-lo num jumento
Para ser santificado.

Na bodega chegou cedo,
Pediu cachaça do Sul,
Tomou só uma lapada,
Na boca pôs um imbu.
Era final de agosto,
Morreu entre o tira-gosto
E dois dedos de Pitú.

Naquela manhã de sexta,
Me lembro com precisão,
No céu se abriu uma fenda
Mesmo em cima do Sertão.
Quem estava por perto viu
Quando seu corpo subiu
Tombando na condução.

Chegando assim nas Alturas
Levou um susto tremendo.
Ele não podia acreditar
Naquilo que estava vendo:
Os santos todos pulando,
Bebendo e se esbaldando
E a concertina comendo.

Tinha um santo na zabumba,
Outro triângulo tocando,
Santo dançando com santa,
Santa e Santo se beijando.
Era a procissão mais bela,
O forró dando na canela,
Noite e dia assim virando.

Do outro lado ainda havia
Uma roda bem diferente.
O samba falando alto,
Treze baianas na frente
Que enquanto pagodeavam
Três anjos inauguravam
Duas fontes de aguardente.
(...)


* * *
Autor: Adriano Santori
Currais Novos, 2002.

Capa: Desenho do Autor
Contato: Adriano Santori
Rua da Magnesita, 55.
Currais Novos/RN.
CEP 59380-000
Email: adrianosantori@yahoo.com.br

As Visões de Zé do E.T. para o Fim do Milênio (Parte)



As Visões de Zé do E.T. para o Fim do Milênio

Eu peço licença agora
Para contar a você
A estória de um cabra
Chamado Zé do E.T.
Que anda mundo afora
Dizendo tudo saber.

Este caso teve início
Em certo tempo passado.
O Zé avistou no céu
Um bicho arredondado
Com mais de duzentas luzes
Piscando pra todo lado.

Zé começou a tremer,
Fez logo o sinal da cruz.
Chamou por todos os santos,
Buda, Alá e Jesus.
Foi quando a coisa parou
E dela saiu uma luz.

O Zé foi abduzido
Pela força do clarão,
Entrando na espaçonave,
Tão perfeita condução,
Fabricada noutro planeta
Obra prima de Plutão.

Diante do pobre Zé
Apareceu um anão,
Todo pintado de cinza,
Por certo fazia carvão.
Dizendo: Eu sou um E.T.
Não precisa temer não!

(...)

* * *
Autor: Adriano Santori
Currais Novos, fevereiro de 2010.
Capa: Desenho do Autor
Contato: Adriano Santori
Rua da Magnesita, 55.
Currais Novos/RN.
CEP 59380-000
Email: adrianosantori@yahoo.com.br

A Triste Estória de uma Sabiá-una (Parte)



Triste Estória de uma Sabiá-una

Lá no fundo do sertão,
Na Ribeira do Acauã,
Existia um Bem-te-vi
Que cantava de manhã,
Tarde, noite e madrugada,
Procurando uma namorada
Para o seu ninho de lã.

Tocava frevo e maxixe,
Xote, xaxado e baião
Na sanfona e na viola
Bossa nova e samba-canção.
Dedilhava com maestria,
Mas um amor não aparecia,
Tinha triste o coração.

Fez versos para uma Rolinha
No alto da goiabeira,
Paquerou com a Tangará,
Tão pintadinha e faceira,
Foi à Pedra do Caju
Reconquistar uma Anu,
Mas levou outra carreira.

Foi então que um belo dia,
Num ganho de marmeleiro,
Encontrou uma Sabiá-una
Pedida, sem paradeiro.
Carente de fazer dó,
Com febre, tristonha e só,
Muita fome e sem poleiro.

Com sua melhor cantoria
Foi reanimando a donzela,
Entrou na mata, trouxe remédio,
Cuidou com carinho dela.
Não era a maior intenção,
Mas conquistou o coração
Da Sabiá-una tão bela.

(...)

* * *
Autor: Adriano Santori
Currais Novos, fevereiro de 2010.
Capa: Desenho do Autor
Contato: Adriano Santori
Rua da Magnesita, 55.
Currais Novos/RN.
CEP 59380-000
Email: adrianosantori@yahoo.com.br

O Dia em que a Água acabou (Parte)



O Dia em que a Água acabou

A Bíblia Sagrada fala,
Nostradamus já sabia,
Os maias fizeram as contas,
Em dois mil e doze caía
A data do fim do mundo.
Eu duvidei, mas no fundo,
Boto fé na profecia.

Ela diz que o planeta
Vai acabar e assim
Tudo será consumido
Numa fogueira sem fim.
Neste calor de matar,
Alguém pra se adiantar
Pôs fogo no estopim.

Atente bem aos relatos
Vindos de mundo afora.
Depois que o chão esquentou,
Dona Água, sem demora,
Pegou carona num jato
E deste torrão tão ingrato
Deu no pé, foi-se embora.

Secaram o Rio Amazonas,
Paraná, Madeira e Juru,
São Francisco, Purus, Japurá,
Paraguai, Tocantins e Xingu.
Em Iguaçu não cai mais um fio
E até o Riacho do Navio
Não corre mais pro Pajeú.

Era uma vez Rio Nilo,
Mississipi, Rio Amarelo,
Volga, Sena e Danúbio,
Potengi, Açu, Rio Belo.
Quem estiver duvidando,
O Mar Vermelho cruzando
Não molha mais o chinelo.

(...)
* * *
Autor: Adriano Santori
Currais Novos, março de 2010.
Capa: Desenho do Autor
Contato: Adriano Santori
Rua da Magnesita, 55.
Currais Novos/RN.
CEP 59380-000
Email: adrianosantori@yahoo.com.br